Setembro 19, 2024

GONÇALO CRUZ “Ainda em Dezembro, tivemos de baixar novamente o orçamento e, continuamos estáveis e crentes que iremos assegurar os nossos objetivos”

Foi jogador das divisões Nacionais, mas aos 26 a vontade de ser treinador falou mais alto. No terceiro ano a comandar equipas seniores o saldo é francamente positivo⁠. Fomos conhecer melhor mister Gonçalo Cruz.

Uma carreira de jogador até que interessante, foi interrompida aos 26 anos. O chamamento do banco falou mais alto?

Ter feito o meu processo de formação no Vitória FC, no CF “Os Belenenses” e no CS Marítimo permitiram-me adquirir experiência dentro do campo, o que para ser treinador não é condição, mas acaba sempre por ser importante, ainda para mais em campeonatos nacionais, porque dá para aprender entre os melhores jogadores da mesma idade. Normalmente, também existem bons treinadores nestes contextos, o que permite ter exemplos de como se fazer, e também, o que menos funciona.
Mesmo enquanto jogador, sempre fui bastante interessado no porquê das decisões dos treinadores e, ainda, enquanto jogava no Campeonato de Portugal já estava a treinar os escalões de formação do Vitória FC.
Comecei a perceber que tinha jeito para levar a minha liderança como jogador de campo para a liderança das minhas equipas e, então de forma natural comecei a orientar escalões de faixas etárias superiores nos anos seguintes. Fiz uma época como adjunto em seniores, mas rapidamente entendi que precisava de estar à frente de uma equipa para colocar o muito que tenho aprendido com a prática em ação, para ajudar os jogadores a conhecerem mais sobre as suas capacidades, sejam jovens ou já experientes.

⁠A treinar seniores, tem sido em crescente em três anos, com um título distrital pelo meio. Como tem sido esse caminho?

Nos últimos três anos, estive preocupado em preparar uma metodologia que seja rapidamente ajustada ao contexto onde entro. Penso que não é suficiente ter o diploma e conhecimento, é preciso organizar esse conhecimento em um método de trabalho que vai para além do que é a metodologia de treino. É preciso saber liderar, treinar, comunicar, relacionar, recrutar, sejam os jogadores, seja a equipa técnica, seja quem nos vai ajudar no dia-a-dia. Neste 3 últimos anos, tive o privilégio de ajudar vários jogadores a chegarem a divisões superiores em relação aonde estavam, mas também alguns dos adjuntos com os quais tenho trabalhado. Não tenho sido só eu que tenho vindo a crescer, mas todos em redor. Isto porque, eu posso ser, naturalmente o centro, mas o propósito é levar quem está comigo, sejam jogadores, adjuntos e diretores a onde eles possam atingir todo o seu potencial. É claro que os clubes também ganham com isso, porque os jogadores ao chegarem mais longe, os clubes acabam por receber a sua parte. É a vantagem de alguns clubes apostarem em atletas jovens, mas também, em treinadores que sabem como potenciá-los. A minha preocupação é a criação de um ambiente em que todos, desde o clube ao jogadores possam ganhar com o crescimento de cada um.

 

O Barreirense, parece-nos um clube com bastante potencial, mas a quem lhe tem faltado estabilidade nos últimos anos. Esse é o caminho que se está a criar e até onde achas que o clube pode chegar?

Sim, neste momento estamos no campeonato nacional, porque o ano passado vencemos o campeonato e subimos com o Barreirense. O Barreirense tem tido dificuldade em manter-se no ano a seguir após subir. Acontece a muitos clubes, porque por vezes os jogadores, treinadores e diretores que sobem, não estão preparados para o ajuste ao novo contexto. É preciso saber como subir, mas também como estabilizar na época após a subida, eventualmente para preparar a equipa para outra subida ou, para garantir estabilidade na divisão em que está. Depende muito da força que o clube quiser implementar.
O passado recente tem-me proporcionado este tipo de equipas, que querem subir e garantir estabilidade na época seguinte, surpreendendo nos lugares de cima. Neste momento, à 19ª jornada, estamos a 3 pontos do 3º lugar e com um dos orçamentos mais baixos desta divisão. Ainda em Dezembro, tivemos de baixar novamente o orçamento e, continuamos estáveis e crentes que iremos assegurar os nossos objetivos .
Creio que apenas e só depois de garantida esta estabilidade, tanto o Barreirense como qualquer outro clube, pode estar pronto para subir novamente, caso tenha vontade de assegurar as condições mínimas para isso acontecer.

⁠Tens apenas 30 anos e por acaso, neste momento, nenhum jogador, mais velho que tu. Como se gere essa situação?

Não tenho neste momento, mas sempre tive jogadores mais velhos nas minhas equipas. A idade não é critério essencial para concretizar os objetivos da época. Quando recruto atletas procuro mais pelo carácter e maturidade do que pela idade. Há jogadores novos e maduros e, há jogadores mais velhos e imaturos. É preciso descobrir antes de contratar. Um jogador experiente e maduro também entende que a competência de um treinador não se mede pela idade, mas pelos resultados que ajuda o atleta a atingir individualmente. Se neste momento olharmos para a equipa do Benfica, apenas há 2 jogadores com mais de 30 anos, que é Di Maria e Otamendi, que têm 36 anos. Todos os outros têm 30 ou menos. Ora isto não funciona, quando o treinador procura apenas jogadores muito experientes para ganhar e pronto. Se o objetivo de um clube for, desenvolver jovens para ter exemplos na formação e, para obter refinanciamento anualmente, é fundamental ter jogadores jovens a potenciar e a fazê-los aparecer no mercado de transferências. Depois, ter um ou outro mais experiente para dar à equipa estabilidade emocional.

O Joao Bandeira faz 29 nas próximas semanas e é o capitão. Alguém que joga muito em campo, mas tem esse aditivo de sentir o clube como poucos. Isso é fundamental?

O João Bandeira é o capitão e é fundamental nesta equipa. Em cada equipa, é importante haver jogadores que são a espinha dorsal, mesmo que por vezes, possam ter de continuar competitivos para garantir o seu lugar na titularidade. Existem diferentes fases pelas quais as equipas passam na época, e há momentos em que há mais conflito e há momentos de mais conforto. Um capitão tem de saber isso e, precisa de ser o primeiro a reequilibrar a equipa nas necessidades que surgem. Um capitão têm de ajudar a equipa em campo e, os colegas no balneário. E deve ser sempre um exemplo de produtividade. Enquanto o capitão tiver este comportamento será fundamental, seja em que equipa for. O João Bandeira é alguém que sente o clube, é alguém com quem já tive o gosto de trabalhar num outro contexto de campeonato nacional e em quem a minha equipa técnica pode confiar, mas também todos os outros colegas.

Uma série tremendamente equilibrada onde todos podem tirar pontos a todos. Também fazes essa leitura ao vosso campeonato?

Esta série está tremendamente equilibrada em que uma equipa que ganha, a seguir pode perder, e existe dificuldade em fazer-se longas séries de jogos a ganhar ou a não perder. Acaba por ser agradável para quem segue a tabela, mas extremamente desagradável para os clubes que inicialmente tinham aspirações a subir de divisão e têm investido muito, mas vêem as suas equipas em lugares fora das expetativas.
Ainda na primeira volta lembro-me de estarmos a meio da tabela a 3 pontos da descida e a 3 pontos do 3º lugar. Mas, se olharmos para a 2ª liga, acontece a mesma coisa. Por isso, acaba por ser uma boa experiência este tipo de equilíbrio, preparando os treinadores que têm aspiração a continuar a subir na carreira. Enquanto isso, a nossa equipa está a usar esse equilíbrio para se manter competitiva, com um futebol interessante para os nossos adeptos e conseguir envolvê-los novamente com as dinâmicas do clube.

⁠Como já dissemos, tens 30 anos e tem sido sempre em crescendo. Até onde podes chegar?

Com 30 anos, esta é a minha 3ª época e nas duas épocas finalizadas, conseguimos concretizar os resultados que nos propuseram. Em cada um desses anos, apenas estive preocupado em atingir o resultado dessa época. Fazer isso e apenas estar focado em fazer o que depende de mim e da minha equipa técnica. Onde poderei chegar na minha carreira, é uma resposta que guardo comigo. Certa vez li, que não devemos definir objetivos, porque a mente é limitada e, não tem capacidade de ver fora daquilo que acha possível. Por isso devemos trocar os objetivos, pela energia diária para fazer acontecer, o que tem de ser feito. É nesse momento, que podemos ultrapassar aquilo que pensámos ser possível. Por isso, no final desta época, a prioridade é garantir o resultado que o clube me pediu no início, e na próxima época, quero trabalhar para garantir novamente o resultado que me solicitarem. E assim fazê-lo época após época, de forma segura e consistente. E vamos ver, onde podemos chegar juntos, os meus atletas, a minha equipa técnica, eu e o clube que representarmos.

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